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Onde o mote é a fotografia e... outras eventuais peregrinações.

22
Set14

Gente

por Maximiliano

 

 

 

 

 

 

Esta Gente

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"

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publicado às 21:47

18
Set14

  

 

 Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

(…)

Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

 

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publicado às 21:12

11
Jan14

Rosa amarela

por Maximiliano

 

 

 

 

 

 

 

COROAI-ME DE ROSAS

 

Coroai-me de rosas,

Coroai-me em verdade,

De rosas —

 

Rosas que se apagam

Em fronte a apagar-se

Tão cedo!

 

Coroai-me de rosas

E de folhas breves.

E basta.

 

Ricardo Reis, in "Odes" Heterónimo de Fernando Pessoa

 

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publicado às 20:53

09
Dez11

É Noite, Mãe

 

As folhas já começam a cobrir
o bosque, mãe, do teu outono puro...
São tantas as palavras deste amor
que presas os meus lábios retiveram
pra colocar na tua face, mãe!...

Continuamente o bosque se define
em lividez de pântanos agora,
e aviva sempre mais as desprendidas
folhas que tornam minha dor maior.
No chão do sangue que me deste, humilde
e triste, as beijo. Um dia pra contigo
terei sido cruel: a minha boca,
em cada latejar do vento pelos ramos,
procura, seca, o teu perdão imenso...

É noite, mãe: aguardo, olhos fechados,
 
que uma qualquer manhã me ressuscite!...


António Salvado, in "Difícil Passagem"

 

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publicado às 20:56

31
Out11

Um pouco de poesia

por Maximiliano

Barca Bela

 

Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Oh
pescador?

Não vês que a última estrela
No céu nublado se
vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!

Deita o lanço com cautela,
Que
a sereia canta bela...
Mas cautela,
Oh pescador!

Não se enrede a
rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê la,
Oh
pescador.

Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge
dela
Oh pescador!

 

Almeida Garrett, Folhas Caídas

 

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publicado às 21:27

02
Out11

O Rio

por Maximiliano

Tempo fluvial

 

Se eu definisse o tempo como um rio,
a comparação levar-me-ia a tirar-te
de dentro da sua água, e a inventar-te
uma casa. Poria uma escada encostada
à parede, e sentar-te-ias num dos seus
degraus, lendo o livro da vida. Dir-te-ia:
«Não te apresses: também a água deste
rio é vagarosa, como o tempo que os
teus dedos suspendem, antes de virar
cada página.» Passam as nuvens no céu;
nascem e morrem as flores do campo;
partem e regressam as aves; e tu lês
o livro, como se o tempo tivesse parado,
e o rio não corresse pelos teus olhos.

 

Nuno Júdice

 

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publicado às 18:09

06
Set11

Modo de olhar II

por Maximiliano

No Fim

 

No fim de tudo dormir.
No fim de quê?
No fim do que tudo parece ser...,
Este pequeno universo provinciano entre os astros,
Esta aldeola do espaço,
E não só do espaço visível, mas até do espaço total.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

 

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publicado às 17:59


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